sábado, 21 de janeiro de 2017

BOYS [JONGENS/ BOYS]


Boys (Jongens/ Boys), Mischa Kamp, 2014.




Correndo em Seu Próprio Compasso

por Fábio Dantas Flappers


     No primeiro frame de Boys (Jongens), de Mischa Kamp, Sieger (Gijs Blom) corre. Corre por ser atleta junevil em um time de atletismo se preparando para uma importante competição. Corre do clima tenso em casa, com constantes atritos entre o pai e o irmão mais velho, agravados pela morte da mãe em um acidente de moto, veículo que o irmão insiste em usar. Corre contra a inquietação interna de viver em uma pequena holandesa. E corre de/para si mesmo, por estar descobrindo seus desejos e sua sexualidade.
Sieger - vivido com frescor e sutileza por Blom -  e seu melhor amigo Stef (Stijn Taverne) acabaram de seu escolhidos pelo treinador do time para formar o quarteto de revezamento com Marc (Ko Zandvliet) e Tom (Myron Wouts). A curiosidade, atração e interesse entre Sieger e Marc é imediata. 

Sieger (Gijs Blom) corre, corre, corre...

Sieger e Marc (Ko Zandvliet) contemplam o imprevisível


     Boys é, sobretudo, um coming of age movie, um filme de rito de passagem, onde a orientação sexual dos protagonistas é irrelevante. Mesmo os conflitos que poderiam surgir por conta da relação entre dois jovens homens, não chegam a ser esboçados, pois as questões ficam restritas aos protagonistas,  ao seu próprio entendimento, aceitação e posicionamento sobre sua orientação sexual. A exceção é uma cena emblemática quase ao final do filme, envolvendo Sieger e seu amigo Stef em um almoço, onde este apenas com o olhar transmite mais que mil palavras. É provavelmente a mais bela e tocante cena do filme. 

O olhar atento de Stef (Stijn Taverne), melhor amigo de Sieger 
 
Sieger e Marc entregues ao despertar do primeiro amor

     O diretor Kamp constrói uma obra simples e bem intencionada que, mesmo sem aprofundar e desenvolver seus personagens em um roteiro mais consistente, ao menos alinhava com sinceridade um tema universal e atemporal. O filme não é um marco entre seus pares; não é um mergulho nas relações entre jovens gays como Parting Glances de Bill Sherwood, ou um tratado sobre amor juvenil e repressão como Clamor do Sexo (Spelendor in the Grass) de Elia Kazan, ou um retrato intenso sobre a descoberta arrebatadora do primeiro amor e suas consequências como O Segredo de Broleback Mountain (Brokeback Mountain) de Ang Lee ou Azul É a Cor Mais Quente (La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2/ Blue Is the Warmest Color), de Abdellatif Kechiche. Ainda assim, faz esboço digno e sensível do tema.
Ao final de Boys, Sieger continua correndo. Continua em movimento. Porém, agora em ritmo, velocidade e compasso próprio. E devidamente mais seguro de suas passadas.


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