AO
SEU LADO [IN FROM THE SIDE]
É extremamente animador e um verdadeiro
alívio ver um filme que aborde a temática LGBTQ e que não termine em uma
tragédia. Ao contrário, o romance que surge entre dois jogadores de rugby de
uma liga gay não lida com homofobia, discriminação e nem tem maiores impedimentos
externos que tornem a relação proibida. Apenas por naturalizar uma relação gay
e mostrar o quanto estas muito pouco diferem de relações heterossexuais, o
filme torna-se obrigatório de ser assistido. Ironicamente, isso se torna o maior problema do filme, seu
ponto mais fraco.
Warren e Mark: de uma noite casual... |
... para algo muito mais significativo |
A trama é extremamente simples: dos jogadores de uma liga de rugby exclusivamente composta por homens gays vivem uma noite de sexo ocasional, e depois descobrem um interesse maior, muito além de uma relação de apenas uma noite. Mark (Alexander Lincoln) fica frustrado ao saber que Warren (Alexander King) tem namorado, para depois relevar a Warren que também é comprometido. Ambos passam a viver um romance em segredo, sem que seus parceiros e companheiros de time saibam.
Diversidade no Rugby: uma liga só deles. |
Warren, jogador e astro da Liga A, a principal |
É exatamente aí que o filme apresenta seu maior problema e limitação: o roteiro é extremamente limitado ao apresentar uma razão para que Mark e Warren não possam viver sua paixão recém-descoberta. Ambos parecem viver relações mornas com seus companheiros, não há nenhum tipo de dependência financeira, filhos ou qualquer entrave para viverem seu romance. Além disso, Mark parece ser um homem chato e cheio de dúvidas, e em alguns momentos nos perguntamos o que um homem bonito, sexy, postura do e interessante como Warren viu nele. Inacreditavelmente, Mark também é alvo do interesse de um amigo e companheiro de time, Henry (Wiliam Hearle, ator bem interessante), que se sentindo rejeitado e não devidamente valorizado pelo time, acaba abusando de bebidas alcoólicas frequentemente. Muito mais interessante de acompanhar seria uma relação entre Warren e Henry.
Henry, amigo e companheiro de Mark na Liga B. |
A conclusão, após a relação ser descoberta, é muito frustrante e revela o quanto o roteiro do filme é frágil e incoerente, e também o quanto Mark é frívolo, irrestrito e chato, muito chato. Ao menos, o filme apresenta uma cena de extrema intensidade para Warren, que faz Alexander King brilhar e nos mostra o sensível ator que é.
Warren em ação! |
O diretor Matt Carter é um homem corajoso. Levantou dinheiro para a realização do filme através de uma campanha de crowdfunding. Além de diretor, roteirista (em parceria com Adam Silver) e produtor, Carter também assina a fotografia, edição, trilha sonora, figurinos, efeitos visuais, design de títulos de encerramento, além do casting e de compor e interpretar três canções. Em uma produção de baixo orçamento pode parecer simples, mas é algo que exige coragem. E o saldo final é positivo, ainda que o filme apresente inconsistências habituais para um diretor estreante. O diretor cria algumas cenas extremamente interessantes (como o interlúdio romântico do casal, em pleno Natal, na casa dos pais de Mark e a conversa franca deste com a mãe, algumas cenas das partidas esportivas e, sobretudo, na cena em que o romance é descoberto), que mostram sensibilidade e potencial para investir na direção em outros filmes.
Os amantes na cama, ao amanhecer. |
“Ao Seu Lado” tem valor por apresentar um romance gay que evita muitos estereótipos (inclusive há pouquíssima nudez e cenas de sexo) e apresentar um diretor que tem iniciativa. Que em seu próximo projeto ele tenha um material mais forte e bem desenhado para trabalhar.
*Ficha Técnica no IMDb:https://www.imdb.com/title/tt7947604/?ref_=nm_flmg_t_1_act
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