Um
Ato de Esperança (The Children Act), Richard Eyre, 2018.
Um Ato Transformador
por Fabio Dantas Flappers
A Lei da Criança (The Children Act) de 1989 atribui deveres às
autoridades locais, tribunais, pais e outras agências no Reino Unido, para garantir
que as crianças sejam protegidas e que seu bem-estar seja promovido e
garantido. A juíza Fiona Maye (Emma Thompson) é responsável pelo
caso de Adam Henry (Fionn Whitehead), um inteligente e maduro jovem de 17 anos
com leucemia, que se recusa a receber tratamento por questões religiosas, já
que é Testemunha de Jeová e a religião condena a prática. Seus pais seguem o
mesmo pensamento. Fiona ainda vive um grande dilema moral por conta de seu
veredito em um caso anterior, sobre a separação de irmãos siameses. Simultaneamente,
seu marido Jack Maye (Stanley Tucci) comunica que, por conta da dedicação
excessiva da mulher ao trabalho e do afastamento e esfriamento que se
estabeleceram em seu casamentou, tanto emocionalmente quanto sexualmente, está
disposto a iniciar uma relação extraconjugal. Sob essa pressão, a juíza toma
uma decisão pouco ortodoxa: ir ao hospital e ouvir Adam sobre sua escolha. Com
esse ato, muda a vida e o destino do jovem Henry de modo definitivo.
Henry e a Juíza Maye no hospital |
Ian McEwan é incontestavelmente um dos maiores autores
vivos na ativa. Em suas obras, escolhas éticas e morais são pontos centrais.
Como no excepcional Desejo e Reparação (Atonement), de Joe Wright, 2007, uma
simples situação cotidiana desencadeia um ato que acaba levando a fatos
imprevisíveis, gerando profundas questões existenciais, dilemas de consciência
e, novamente, escolhas éticas e morais. O diretor Richard Eyre, sempre reverente
às tramas que dirige – e talvez por ciência da força da trama roteirizada pelo
próprio McEwan –, não ousa interferir nem insinua uma marca pessoal, deixando
que o texto, os personagens e o elenco dominem plenamente.
Fiona e Henry, face a face |
A grande força motriz do filme é Emma Thompson. Atriz rara, modula as dúvidas e
fraquezas da Juíza Maye, escondidas sob a aura de austeridade, como só os
grandes atores conseguem. Seu rosto é como uma tela onde imprime cada nuance,
hesitação e todos os conflitos da personagem. Tucci tambem constrói um tipo
interessantíssimo, com sinceridade raramente vista para homens em sua situação.
Whitehead transmite uma neutralidade – exatamente como em Dunkirk, de
Christopher Nolan, 2017 – que acaba servindo muito bem à inexperiência e
certezas abaladas de Adam, ainda que seja inevitável pensar que outro ator
pudesse trazer cores mais vigorosas.
Jack e Fiona Maye discutindo sua crise conjugal |
Adam Henry descobrindo um novo mundo |
“Um Ato de Esperança” é uma obra que trata de um tema de forte
potencial emocional, e talvez seu maior mérito seja construir este percurso com
sobriedade e contenção; do contrário, poderia ser um dramalhão. Felizmente, não
é. A história dos personagens é tratada com a dignidade e o respeito que
merece.
*Ficha Técnica no IMDb: https://www.imdb.com/title/tt6040662/?ref_=nv_sr_1
*Ficha Técnica no IMDb: https://www.imdb.com/title/tt6040662/?ref_=nv_sr_1
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