sexta-feira, 29 de março de 2019

UM ATO DE ESPERANÇA [THE CHILDREN ACT]


  
Um Ato de Esperança (The Children Act), Richard Eyre, 2018.


Um Ato Transformador

por Fabio Dantas Flappers

A Lei da Criança (The Children Act) de 1989 atribui deveres às autoridades locais, tribunais, pais e outras agências no Reino Unido, para garantir que as crianças sejam protegidas e que seu bem-estar seja promovido e garantido. A juíza Fiona Maye (Emma Thompson) é responsável pelo caso de Adam Henry (Fionn Whitehead), um inteligente e maduro jovem de 17 anos com leucemia, que se recusa a receber tratamento por questões religiosas, já que é Testemunha de Jeová e a religião condena a prática. Seus pais seguem o mesmo pensamento. Fiona ainda vive um grande dilema moral por conta de seu veredito em um caso anterior, sobre a separação de irmãos siameses. Simultaneamente, seu marido Jack Maye (Stanley Tucci) comunica que, por conta da dedicação excessiva da mulher ao trabalho e do afastamento e esfriamento que se estabeleceram em seu casamentou, tanto emocionalmente quanto sexualmente, está disposto a iniciar uma relação extraconjugal. Sob essa pressão, a juíza toma uma decisão pouco ortodoxa: ir ao hospital e ouvir Adam sobre sua escolha. Com esse ato, muda a vida e o destino do jovem Henry de modo definitivo.

Henry e a Juíza Maye no hospital
  
Ian McEwan é incontestavelmente um dos maiores autores vivos na ativa. Em suas obras, escolhas éticas e morais são pontos centrais. Como no excepcional Desejo e Reparação (Atonement), de Joe Wright, 2007, uma simples situação cotidiana desencadeia um ato que acaba levando a fatos imprevisíveis, gerando profundas questões existenciais, dilemas de consciência e, novamente, escolhas éticas e morais. O diretor Richard Eyre, sempre reverente às tramas que dirige – e talvez por ciência da força da trama roteirizada pelo próprio McEwan –, não ousa interferir nem insinua uma marca pessoal, deixando que o texto, os personagens e o elenco dominem plenamente.
 
Fiona e Henry, face a face

A grande força motriz do filme é Emma Thompson. Atriz rara, modula as dúvidas e fraquezas da Juíza Maye, escondidas sob a aura de austeridade, como só os grandes atores conseguem. Seu rosto é como uma tela onde imprime cada nuance, hesitação e todos os conflitos da personagem. Tucci tambem constrói um tipo interessantíssimo, com sinceridade raramente vista para homens em sua situação. Whitehead transmite uma neutralidade – exatamente como em Dunkirk, de Christopher Nolan, 2017 – que acaba servindo muito bem à inexperiência e certezas abaladas de Adam, ainda que seja inevitável pensar que outro ator pudesse trazer cores mais vigorosas.

Jack e Fiona Maye discutindo sua crise conjugal 
Adam Henry descobrindo um novo mundo
  “Um Ato de Esperança” é uma obra que trata de um tema de forte potencial emocional, e talvez seu maior mérito seja construir este percurso com sobriedade e contenção; do contrário, poderia ser um dramalhão. Felizmente, não é. A história dos personagens é tratada com a dignidade e o respeito que merece. 

*Ficha Técnica no IMDb: https://www.imdb.com/title/tt6040662/?ref_=nv_sr_1

 

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