Ouro Desafiando a Gravidade
por Fábio Dantas
FILME
Gravidade |
12 Anos de Escravidão |
Trapaça |
Ela |
CONTEXTO GERAL
Quatro filmes se destacaram
nas premiações esse ano e polarizaram as atenções: Gravidade (Gravity), de
Alfonso Cuarón, 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), de Steve McQueen,
Trapaça (American Hustle), de David O. Russel e Ela (Her), de Spike Jonze.
Estes dividiram os principais prêmios da temporada.
Gravidade é o grande filme
do ano. Cuarón realizou uma obra de valor incalculável. Gravidade é grande
porque se equilibra magistralmente entre os dois eixos do bom cinema: a técnica
precisa e deslumbrante e o foco no humano, seja nos dois astronautas perdidos
no espaço, seja em quem ficou para trás na Terra, seja a humanidade toda. Na
imensidão infinita, com a Terra arredondada em azul, todas as nossas
perspectivas habituais são redimensionadas. Os conceitos de solidão, medo,
incerteza, morte, saudade, força, sobrevivência, vida são redimensionados e
produzem algo que fará toda a diferença: desistir ou persistir, lutar. Toda a
complexidade do ser humano condensada em um momento, em uma situação
emergencial, em um recorte de uma vida, em um frame dentro do infinito
espaço-tempo. Uma orquestra perfeita, e humana, demasiadamente humana.
12 Anos de Escravidão
representaria um cinema sério, de tema importante, a horror da escravidão. Não
o faz. O filme tem o mérito de não cair no melodrama exagerado, mas Mc Queen
dosou mal e acabou produzindo uma obra fria, estéril, onde mal se cria qualquer
vínculo emocional com os personagens – o que seria seminal pelo tema. Salvo as
excelentes performances de Ejiofor – seu grande momento é quando irrompe em um
canto emocionado com os escravos – e de Sarah Paulson como a cruel mulher do
pastor, o filme soa oco e vazio.
Trapaça é um truque bem
realizado pelo mediano David O. Russell, com charme, roteiro bem azeitado e um
elenco de ouro comandado por Bale, Adams, Cooper e Lawrence, os quatros
intérpretes indicados em sua categoria. Mas vai longe de ser um grande filme.
Ela é uma daquelas pérolas raríssimas,
que captam o sentimento exato de uma geração. Mais, de um momento específico
pelo qual toda a espécie humana está passando. Em um futuro próximo, em um
mundo cada vez mais regido pela tecnologia, de incomunicabilidades e afetos
terceirizados, Jonze realiza o seu mais poderoso e terno filme até hoje, um
cult instantâneo, que na junção do corpo do extraordinário Joaquin Phoenix e na
voz da deslumbrante Scarlett Johansson,
materializa o pleno romantismo, como poucas vezes no cinema recente.
Dos outros nove filmes que deveriam ser cinco, o real
integrante do grupo seria Nebraska, que versa sobre o inventário afetivo de um
homem e seu descendente. Tema comum ao trabalho de Alexander Payne, aqui ele
realiza sua obra-prima, um filme que observa as limitações da condição humana.
Muitas também são as qualidades de O Lobo de Wall Street
– um Scorsese legítimo, a trajetória de outro outsider, vivido com vigor e
brilho por Leonardo DiCaprio.
Capitão Phillips (Captain Phillips), de Paul Greengrass,
Clube de Compra Dallas (Dallas Buyers Club) de Jean-Marc Valée e Philomena, de
Stephen Frears completam a lista, com méritos bem mais modestos.
QUEM MERECE GANHAR
Gravidade
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Gravidade
DIREÇÃO
Alfonso Cuarón |
CONTEXTO GERAL
O grande favorito e maior
merecedor do prêmio é Alfonso Cuarón, por Gravidade. Ele rege com maestria a
jornada solitária espaço adentro, ao mesmo tempo simples e complexa, que faz de
Gravidade a obra única e inesquecível que ela é. Cuarón já mostrou há muito
tempo o quanto é excelente em sal função, mas nunca nesse nível. O Oscar é dele
e ninguém tasca.
Muitos ano-luz atrás, vem
Alexander Payne e seu nostálgico Nebraska e ainda, o Mestre Martin Scorsese, que
nem era esperado nas categorias de Filme e Direção, mas conseguiu incluir estas
em seu seleto currículo.
QUEM MERECE GANHAR
Alfonso Cuarón, Gravidade.
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Alfonso Cuarón, Gravidade.
ATOR
Matthew McConaughey |
Leonardo DiCaprio |
CONTEXTO GERAL
Desde o início, foi uma das
categorias mais disputadas o que fez nomes do calibre de Robert Redford, Até o
Fim (All Is Lost), Joaquin Phoenix, Ela e Tom Hanks, Capitão Phillips ficarem
de fora. Muito se especulou o prêmio para Bruce Dern por seu belo retrato do
ancião senil de Nebraska. E enorme é a torcida para Leonardo DiCaprio, sempre
esnobado pela Academia, já podendo – e merecendo- não estar apenas em sua quarta
indicação, mas no mínimo na sétima, o que o faria o mais jovem na história a
conseguir isso antes dos 40 anos. Seu trabalho em O Lobo de Wall Street é um
dos mais vigorosos dos últimos anos, assim com já o foram em Foi Apenas Um
Sonho (Revolutionary Road), Ilha do Medo (Shutter Island) e A Origem
(Inception). Não existe ator em sua geração capaz de tanto – além dele, apenas
Joaquin Phoenix tem so mesmos recursos. E nem citei Os Infiltrados (The
Departed), J. Edgard ou seu excepcional Jay Gatsby de O Grande Gatsby (The
Great Gatsby) também esse ano... O talento e a contenção de Chiwetel Ejiofor
escapa imune pela obra fria e estéril que é 12 Anos de Escravidão. E não é
possível, sob aspecto algum, desmerecer Christian Bale em Trapaça. Se sua
indicação surpreendeu muita gente, sua composição é inquestionável.
Mas aí Matthew Mc Conaughey
deu uma arrancada e se estabeleceu como o favorito por Clube de Compras Dallas.
No auge de sua carreira, ele perdeu quase a metade de seu peso para viver o
texano machista, grosseiro e homofóbico que se descobre HIV positivo no início
da epidemia de AIDS nos EUA, na década de 80. É uma boa performance? Sim. É a
melhor do ano? Não. O olhar perdido e vazio de Dern e a fúria e ganância
incontidas de DiCaprio vão muito além de qualquer transformação física.
QUEM MERECE GANHAR
Leonardo DiCaprio, O Lobo de Wall Street.
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas.
ATRIZ
CONTEXTO GERAL
E então surge Cate
Blanchett...
Sim, existem as outras. Existe
a grande Dame Judi Dench, que ainda há de ganhar seu Oscar de protagonista, que
valoriza cada gesto e olhar de sua personagem como só as grandes podem fazer. Existe
a excelente Amy Adams, definitivamente um dos nomes a surgis nos últimos dez
anos, se estabelecendo de vez como protagonista e integrante do primeiro time.
Existe Sandar Bullock, nulidade como atriz, que deu a sorte de estar no filem
do ano – e, com a ajuad de seu diretor, atingir a melhor performance de sua carreira.
E Existe Meryl Streep, a estupenda, aumentando seu superávit e colecionando
mais uma indicação, no caso imerecida, enquanto Emma Thompson em Walt nos
Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks) e Julie Delpy em Antes da
Meia-Noite (Before Midnight).
Mais que tudo existe Cate
Blanchett, a maior atriz a surgir nos últimas duas décadas. A versatilidade, a
coragem, a inteligência para escolher os projetos certos e o talento bruto,
imaculado, quase divino, não podem ser traduzidos em palavras. É Rainha Elizabeth,
é Elfa Galadriel, é Bob Dylan, é Katharine Hepburn... e agora é Jasmine, a
Blanche DuBois às avessas, em Blue Jasmine, mais recente filme do Mestre Woody
Allen. O que Blanchett faz no filme não tem paralelos não apenas neste ano, mas
em muitos anos. É uma atriz monumental, vivendo uma personagem que oscila entre
vários estados de espírito, vários momentos, várias nuances, dando conta de todas
de forma sublime. Poderiam dizer que só os poetas poderiam falar de Cate Blanchett.
Mas isso seria injusto, privar os homens comuns de entrar em seu universo.
Então, louvemos ela hoje, coberta de ouro, como merece, e sejamos gratos por sermos
contemporâneos dessa atriz genial!
QUEM MERECE GANHAR
Cate Blanchett, Blue Jasmine
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Cate Blanchett, Blue Jasmine. Vitória certa. Certa como o
Sol nasce no Leste.
ATOR COADJUVANTE
CONTEXTO GERAL
Jared Leto é o favorito
absoluto por Clube de Compras Dallas. Vivendo Rayon, um transgender HIV positivo, Leto está extraordinário, em
uma performance muito além da simples transmutação física, onde sua voz, seu
olhar, seu andar, cada gesto expressam a meticulosa construção. Performance
impressionante, é, ao lado de Cate Blanchett em Blue Jasmine, o prêmio mais
certo do ano.
Barkhad Abdi impressiona e
muito em Capitão Phillips. Bradley Cooper só reforça sue prestígio em Trapaça,
emplacando uma segunda indicação consecutiva. Michael Fassbender é normalmente muito
superestimado, mas está bemcomo o escravocrata alcóolatra de 12 Anos de
Escravidão, embora o desenho psicológico de seu personagem seja raso. Já Jonah
Hill é o equívoco completo da categoria. Embora seu personagem caia como uma
luva em seu histrionismo e exageros desagradáveis, é absolutamente lamentável
que tenah sido indicado sobre performances vigorosas e cheias de sutilezas como
as de Daniel Brühl em Rush- No Limite da Emoção (Rush), Will Forte em Nebraska
e Jake Gyllenhaal em Os Suspeitos (Prisoners).
QUEM MERECE GANHAR
Jared Leto, Clube de Compras Dallas.
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Jared Leto, Clube de Compras Dallas.
ATRIZ COADJUVANTE
Jennifer Lawrence |
CONTEXTO GERAL
Aqui sim podemos falar em
disputa! Se considerarmos a performance em si, ou seja, a qualidade da
interpretação, Julia Roberts é imbatível em August: Osage County, seguida logo
por Jennifer Lawrence em Trapaça. Roberts se despe por inteiro de seu star
power e oferece uma das melhores performances de sua carreira, absolutamente
crível, desglamourizada, quase amarga. Seus olhos exprimem em cada cena seu
cansaço em ter que ser a base da família e o terror de algum dia poder ficar
parecida com sua mãe. É um desempenho, interiorizado, complexo, notável e
corajoso, digo de reconhecimento, mesmo que em um péssimo filme. Além disso, de
longe é o personagem mais bem desenvolvido da categoria. Jennifer Lawrence vai
ao extremo oposto, criando uma jovem passional, voluntariosa, quase insana. Ela
de longe oferece a melhor performance da categoria, e é quem mais brilha dentre
seus excelentes parceiros de cena.
Agora os poréns: Muitos
podem pensar que Julia é uma estrela grande demais para ganhar um Oscar de
coadjuvante (ainda que seja a real protagonista do filme). E o filme ser ruim
não ajuda em nada. Já J Law ganhou como melhor Atriz ano passado, se tornando
uma das mais jovens vencedoras de toda a História. Que dirá ganhar um segundo
consecutivo... Mas, tal qual Tom Hanks em Forrest Gump, em 1994, essa
improbabilidade vem tomando corpo e ela arrebatou a maioria dos prêmios da
temporada. Acrescentando a isso o fato de Trapaça ter suas melhores chances
nessa categoria e de JLaw ainda ser uma campeã absoluta de bilheteria - ajudando
a catapultar a saga Jogos Vorazes (The Hunger Games) à cifras estratosféricas –
seus prognósticos são muito positivos...
Considerando as outras três:
muitos parecem torcer por Lupita Nyong´o em 12 Anos de Escravidão, mas a jovem
não faz praticamente nada no filme, sequer tem boas cenas. Exceto pela cena do
sabão, que desencadeia o açoite que caracteriza a cena mais violenta do filme. A
indicação já está mais que suficiente. June Squibb é uma presença marcante em
Nebraska. Sua performance injeta energia e serve de contraponto para o tom
melancólico e reflexivo do filme. Tenho uma intuição que diante da indefinição
da categoria, Squibb pode se beneficiar. Já Sally Hawkins não devia, sob
qualquer circunstância, ter sido indicado por Blue Jasmine. Está absolutamente
patética, com o mesmo ar patético e cafona de sempre. Isso até combina com seu
personagem, mas só de pensar que a excelente Sarah Paulson de 12 Anos de
Escravidão e mesmo Jennifer Garner em Clube de Compra Dallas ficaram de fora,
dá um aperto no peito.
QUEM MERECE GANHAR
Julia Roberts, Álbum de Família.
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Imprevisível! Mesmo.Talvez Jennifer Lawrence. Talvez...
June Squibb.
ROTEIRO ORIGINAL
Joaquin Phoenix em Ela |
CONTEXTO GERAL
Ela (Her), roteiro do
próprio diretor Spike Jonze, é o mais incrível, belo, atual e genial
(despretensiosamente genial) roteiro do ano. O filme merecia muito, muito
mais... Mas ao menos, terá um de seus pontos altos reconhecido.
Concorrência? Sinceramente, nenhuma.
QUEM MERECE GANHAR
Ela
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Ela
ROTEIRO ADAPTADO
Julie Delpy e Ethan Hawke em Antes da Meia-Noite |
CONTEXTO GERAL
Antes da
Meia-Noite (Before Midnight), de Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke é
de longe o maior merecedor do prêmio. Esta acabou sendo a única indicação de um
filme que merecia muito mais. O segundo filme já foi preterido na mesma
categoria. Aqui sim podemos dizer que chegou a hora.
Seu
principal rival é o script de Billy Ray para Capitão Phillips (Captain
Phillips). A disputa é entre os dois, exceto se a Academia ceder à pressão que
estão fazendo para tentar empurrar 12 Anos de Escravidão.
QUEM MERECE GANHAR
Antes da Meia-Noite
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Se pudermos confiar no bom senso
da Academia, Antes da Meia-Noite.
FILME DE ANIMAÇÃO
Vidas Ao Vento |
Frozen |
CONTEXTO GERAL
Frozen, de Chris Buck
e Jennifer Lee, baseado no conto The Snow Queen, de Hans Christian Andersen, é uma das mais interessantes animações
da Disney em muitos anos. Em contrapartida, Vidas Ao Vento (Kaze Tachinu/ The
Wind Rises), do Mestre Hayao Miyazaki, é mais uma exemplar de poesia plena com
que o maior animador vivo nos presenteia.
QUEM MERECE GANHAR
Vidas Ao Vento.
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
Frozen
FILME ESTRANGEIRO
A Grande Beleza |
CONTEXTO GERAL
A Grande Beleza (La Grande
Bellezza/ The Great Beauty), de Paolo Sorrentino e A Caça (Jagten/ The Hunt),
de Thomas Vinterberg seguem na dianteira.
Ambos com suas qualidades e força. E ambos privilegiados pelo fato do
francês AZUL É A Cor Mais Quente não ter sido lançado no prazo estipulado pela
Academia. A Grande Beleza veja alguma vantagem, pela precisão em tão bem captar
um presente decadente, sempre voltando os olhos para o grande passado.
QUEM MERECE GANHAR
A Grande Beleza
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
A Grande Beleza
CANÇÃO ORIGINAL
CONTEXTO GERAL
“Let It Go, de Frozen tem
todo o perfil de vencedora - e merecimento também. É uma belíssima e poderosa canção,
defendida com garra pela Diva da Broadway Idina Menzel.
“The Moon Song”, de Ela é
uma pequena pérola, delicada e despretensiosa como o seu filme. O Golden Globe foi para “Ordinary Love”, de Mandela:
Long Walk to Freedom. Façamos votos de que a Academia não cometa
tamanho disparate escolhendo aquela sacarina composta e interpretada pelo U2.
QUEM MERECE GANHAR
“Let It Go, de Frozen.
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR
“Let It Go, de Frozen.
Confira as lista completa de Indicados ao Oscar no Site da Academia: http://oscar.go.com/nominees
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Difunda suas impressões: